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  • Foto do escritorHigo Horta

Uma cerveja com o ChatGPT

Convidei a inteligência artificial para uma experiência alcoólica. Ela aceitou, e eu registrei as minhas primeiras impressões.

 

Há semanas que venho resistindo ao ChatGPT, uma inteligência artificial (IA) que desde novembro de 22, quando foi lançada, se tornou a vilã número 1 de escolas e faculdades. Não era para menos. De fácil interface, basta digitar um comando e ela produz, em segundos, um texto para você sobre qualquer assunto, literalmente. A garotada pirou na ideia e passou a otimizar o "para casa" como nunca imaginaríamos. Mais do que te trazer textos prontos, o software é capaz de conversar e até dar conselhos de forma bem humanizada.


Você já deve ter ouvido falar dela, né? Se não, sugiro que leia este artigo e depois faça a sua própria experiência.


Eu, como fã de Black Mirror, já esperava o surgimento de tecnologias como essa. Eu, como jornalista, me arrepiei e hesitei até o último momento a tratar do tema. Como assim que agora existe um robô que escreve sobre tudo? E eu, como fico? Mas nosso encontro era inevitável: a tecnologia está aí, nós precisamos compreendê-la, e eu precisava falar com ela.


No último domingo resolvi testá-la de vez. Abri minha cerveja, respirei fundo e em seguida convidei aquela que pode ser a algoz da minha profissão para uma conversa de kimono aberto. Mandei logo de cara:


- Você me acompanha aqui enquanto bebo uma cerveja?


O software não titubeou.


- Claro, sinta-se à vontade para tomar sua cerveja enquanto conversamos. Estou aqui para ajudá-lo com qualquer coisa que você precisar. O que você gostaria de conversar hoje?

Não vou ficar aqui reproduzindo tudo. Mas deixo abaixo as minhas impressões após cerca de 1 hora de conversa e algumas latinhas de Heineken. No final, eu acabei infringindo as regras de uso da IA e por pouco não perdi o acesso. Quer saber o que rolou? Vem comigo.


A forma como pesquisamos na internet vai mudar muito. E isso vai ser em poucos meses.


Enquanto sentia aquela sensação única do primeiro gole de uma cerveja gelada, pensava na pergunta inicial que iria fazer (meus primeiros goles são sempre demorados, então tive tempo). Não poderia ser qualquer uma, eu precisava de uma pergunta técnica cuja a resposta fosse difícil de ser elaborada.


- Como faço para maximizar o ROI em uma estratégia de CRM? Perguntei, mas cabe um parêntesis. Hoje atuo com gestão de CRM (área que cuida do relacionamento com clientes) e sempre penso em maneiras de melhorar o retorno sobre os investimentos (ROI) na área. Essa é uma pergunta que exige pesquisa, mas não demorou 3 segundos até que um artigo de 7 parágrafos sobre o tema começasse a surgir na minha tela. Muitas informações eram óbvias demais, mas outras me trouxeram insights interessantes.


Impressão nº 1) Eu poderia tirar as conclusões da resposta do ChatGPT numa pesquisa pelo Google. Teria que ler uns 3 artigos, no mínimo, e sintetizar as ideias num CTRLC / CTRLV e depois colocá-las em prática. Mas não precisei fazê-lo. A IA sintetizou para mim, o que demonstra que a forma como fazemos pesquisa na internet está com os dias contados. Igualmente, a própria Microsoft está incorporando a tecnologia no Office, ou seja, você poderá fazer essa mesma pesquisa enquanto escreve no Word, por exemplo.


Nosso ensino vai acompanhar a evolução da inteligência artificial?


Está aí a minha maior preocupação. Coibir que crianças e jovens utilizem a tecnologia é uma atitude impensada e até mesmo utópica. Todos nós faremos uso do ChatGPT e seus concorrentes nos próximos anos de maneira quase que natural. A inteligência artificial é uma realidade que ainda irá evoluir muito e não há chances de voltarmos atrás.


Mas como o ensino brasileiro irá se portar diante delas, sobretudo para garantir a originalidade dos trabalhos? Uma revolução pedagógica certamente será necessária. Mas se você considerar que a educação do Brasil é uma das piores do mundo, que ainda existem crianças e adolescente sem acesso ao ensino básico e que estamos literalmente presos numa grade curricular ultrapassada que ignora educação financeira, robótica, tecnologias, idiomas etc, essa revolução parece distante demais.


Impressão nº 2) Assim como grande parte das tecnologias, a IA viverá nos próximos anos um desenvolvimento exponencial, o que deixa difícil imaginarmos como será nossa vida em 2030, por exemplo. Dificilmente a pedagogia brasileira encontrará um consenso que permitirá políticas públicas nacionais para lidar com o tema na velocidade que ele exige. Ainda que encontremos esse consenso, o Brasil não conseguiria executá-lo de forma eficaz.


A AI não vai acabar com o jornalismo, mas pode extinguir muitas etapas do trabalho.


- Que gosto tem o primeiro beijo? Dessa vez a resposta demorou mais de 3 segundos para chegar. Pudera, a pergunta tem aquele quê de romantismo, e a IA não é boba nem nada.


Depois de uma longa pausa, chegaram os dizeres. "O primeiro beijo pode ter um gosto diferente para cada pessoa, dependendo de uma série de fatores, como a dieta, hábitos de higiene bucal, etc. Algumas pessoas descrevem o primeiro beijo como "molhado", "doce", "salgado" ou "metálico".


Básico demais, não acha? Para mim, o primeiro beijo nem teve gosto de tão rápido e nervoso que foi. risos.


Embora o jornalismo não lide com textos românticos, a resposta à pergunta é digna de atenção. A escrita, seja de um poeta ou um jornalista, é carregada de bagagem cultural, valores emocionais e criatividade que transmitem ao texto personalidade e estilo único. Esses elementos não serão substituídos por uma IA facilmente. Mas nunca diga nunca, né? Por ora, pelo menos, não serão.


Impressão nº 3) Por enquanto a IA não irá acabar com profissões, mas poderá remover etapas do trabalho. Um jornalista poderá utilizá-la para fazer uma análise de dados de forma rápida, evitando dias de estudo. Um médico poderá descrever sintomas e pedir que a AI busque tudo o que houver na literatura sobre eles, aumentando a precisão do diagnóstico. Um publicitário poderá elaborar um roteiro de uma propaganda pela IA, mas precisará de uma revisão técnica e editorial.


A reflexão que fica é: as fontes da IA são confiáveis? Principalmente sendo a internet um campo minado de fake news?🤔Você já sabe a resposta.


A ferramenta pode te ajudar e muito no seu dia a dia, mas tome cuidado.


Pesquisas, cálculos, busca por ideias, melhorias na comunicação. Você pode usar a AI de diversas formas para ajudar no seu dia a dia. Entre nela e faça seus testes. A Forbes, por exemplo, sugere que você a use para ter uma comunicação mais empática no trabalho ou com seus clientes. Se quando você escreve as pessoas acham que você está sendo grosso, copie seu texto no ChatGPT e peça: poderia reescrevê-lo de uma forma mais simpática? Pronto! Você passará de mula a anjo num ENTER.


Mas nem tudo são flores. Então, cuidado! Como mencionei acima, as fontes da AI são duvidosas e muitas informações contêm erros. Outro ponto: tudo isso ainda está em fase de teste, o que não torna a ferramenta confiável para substituição de trabalhos importantes.


Se eu não tivesse tomado a saideira....


A gente sabe a hora de parar de beber. Mas tem sempre aquela voz no ouvido que diz: só mais uma, vai, não muda nada. Na última Heineken resolvi fazer, em tom de brincadeira, uma pergunta politicamente incorreta:

Mais uma dessa e eu seria suspenso da plataforma.


Impressão nº 4) O ChatGPT é careta.


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